Infância ontem e hoje

INFÂNCIA ONTEM E HOJE.

Na minha infância não tinha cigarro, droga ou bebida,
Não tinha televisão que mostra gente sofrida,
Não tinha escola privada pois o ensino não rendia,
O ensino daquele tempo era o Estado que fazia.

O professor era um só, falava que se cansava,
Gritava e dava castigo e às vezes até cantava.
Tinha hora do recreio pra gente brincar de pega,
E Tinha até futebol que no sangue se carrega.

Esse professor geralmente era mulher,
Pois os homens não botavam na profissão muita fé,
Coisa de homem era só correr atrás da boiada,
Fazer serviço pesado ou então não fazer nada.

Brincava-se de carrinho, de lata ou qualquer metal,
E também de cavalinho, feito de milho ou de pau,
Brincava-se de pião que rodava com ponteira,
E também bola de gude que se comprava na feira.

Tinha inverno pesado, com muita chuva e enchente,
O povo ia pra ponte pra ver a água corrente,
A molecada saltava de cima do parapeito,
E era até perigoso se nadar daquele jeito.

As tardes quentes de verão do nosso agreste pobre,
Tinham um ventinho gostoso que era imponente e nobre,
Pois levava pra bem alto, lá bem pertinho do céu,
O papagaio bem leve de paleta e de papel.

E hoje o que nós vemos são crianças mal vestidas,
Perambulando, sozinhas, nas calçadas e avenidas,
Cheirando cola e fumando cigarro até de maconha,
É mesmo o retrato vivo do Brasil e da vergonha.

As escolas ficam cheias de alunos e professores,
Que escrevem e fazem contas em lousas que não têm cores,
E as crianças com fome quase sempre não aprendem,
Merendar é o que querem, pois é isto que entendem.

Não têm livros ou canetas ou lápis para escrever,
As bancas sempre quebradas são coisas feias de ver,
O recreio não tem graça, não tem pega ou garrafão,
A brincadeira é perigosa: de criança, não é não.

Os livros só têm figuras para o aluno riscar,
Já não tem dever de casa para a mamãe ensinar,
E quando chegam as provas, digo isto sem engano,
Faça certo ou mesmo errado, ele vai passar de ano.

Mesmo assim, este Brasil que não liga pra criança,
Tem a força de um leão que para a presa avança,
Um dia apagará esta imagem cruel,
De criança sem infância bebendo a taça de fel.

Este país de  brasileiros que conquista o universo,
Com a vontade do povo vai liquidar o perverso,
E assim suas crianças que não tinham nem um lar,
Terão, enfim, alegrias e uma história pra contar.

João Coutinho de Amorim (abr/2000)

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